Natalicio Tenorio Cavalcanti de Albuquerque nascido em Quebrangulo, Alagoas, chegou em Duque de Caxias no final dos anos 20
para se transformar num dos políticos mais poderosos e influentes da
história da Baixada Fluminense. Sua marca registrada era a metralhadora
Lurdinha - presente do general Gois Monteiro que ele carregava no ombro
escondida sob uma indefectível capa preta. O estilo agressivo de
enfrentar os adversários - muitas vezes, violento - acabou criando um
aura de mito ao redor de Tenório. Político auto-didata, o homem da capa
preta desafiou a elite e a corrupção que dominavam Duque de Caxias.
Chamado pelos cabos eleitorais
de "rei da Baixada", e pelos adversários políticos de "deputado
pistoleiro", o homem da capa preta logo virou inimigo número um da elite
local. Ao longo de sua carreira, acumulou inimigos e desafetos.
Lutando por melhorar a qualidade de
vida para a população, foi eleito para a Câmara Municipal de Nova
Iguaçu, também na Baixada Fluminense, em 1936. Cumpriu o mandato até a
decretação do Estado Novo, em 1937.
Já em 45, filiou-se à União
Democrática nacional, conseguindo ser eleito deputado na Assembleia
Constituinte estadual em 1947, fazendo oposição ao pessedista Amaral
Peixoto. Quando eleito, passou a ajudar ainda mais o povo. Arrumou briga
com banco por causa das terras ocupadas, dava dinheiro para comprar
comida e mandava entregar remédio em casa aos doentes.
Apesar de ter apoio do povo,
Cavalcante não era bem visto por seus adversários. Sofreu várias
atentados, conseguindo se livrar de todos eles. Logo após cada atentado,
fazia um discurso chamando a massa para apoiá-lo cada vez mais.
Em 1954, fundou o jornal Luta
Democrática, obtendo nas eleições desse ano a maior votação para
deputado federal do Estado. Foi novamente eleito em 1958. Mesmo assim,
Tenório não conseguiu ser eleito para governador da Guanabara em 1960,
perdendo para Carlos Lacerda, e para governador do Estado do Rio de
Janeiro, em 1962, perdendo para Badger da Silveira.
Tenorio X ACM
Ao
discursar na Câmara dos Deputados, acusou Clemente Mariani, presidente
do Banco do Brasil, de desvio de verbas. Revoltado com a ofensa, o amigo
Antônio Carlos Magalhães, então deputado e Baiano como Mariani,
defendera o conterrâneo respondendo que “vossa excelência pode dizer
isso e mais coisas, mas na verdade o que vossa excelência é mesmo, é um
protetor do jogo e do lenocínio, porque é um ladrão.”
Nesse instante, o homem da capa
preta, pegou o seu revólver e berrou: “Vai morrer agora mesmo!”. Nesse
instante alguns membros tentaram impedir, outros tentaram fugir de medo.
ACM mandou atirar, mesmo com muito medo. Segurou o microfone e falou
novamente: “Atira”. Porém, teve uma incontinência urinária e molhou o
chão a sua volta. Vendo isso, Tenório resolveu não atirar. Recolheu a
arma dizendo que “só matava homem”.
LURDINHA:
Lurdinha
era, como ele chamava carinhosamente, a sua submetralhadora MP40, de
fabricação alemã, similar àquelas utilizadas por soldados nazistas
durante a segunda guerra mundial. Ganhou do general Gois Monteiro, seu
grande amigo.
Era com ela que Tenório
desfilava pelas ruas da Baixada Fluminense, impondo seu poder e
espalhando o medo nos seus adversários. Por diversas vezes, a usou para
trocar tiro com os executores dos seus atentados.
O INÍCIO DA DECADÊNCIA:
Como
o seu poder estava fugindo do controle, seus adversários resolveram
chamar o delegado paulista Albino Imparato (no filme cita o nome como
sendo Lino Maragatto), para dar conta do seu ímpeto populista e
agressivo. O delegado não deu sossego, começou a botar ordem na baixada,
levando muito nordestino preso. Tenório e seus aliados também passaram a
ser perseguidos dia e noite, tendo até a sua casa metralhada e a sua
família ameaçada. Nessa época alguns de seus comparsas foram
assassinados.
Após tanto se esconder e se
sentir acuado, o Homem da Capa Preta buscou conversar com Imparato,
dizendo que não buscaria a iniciativa, mas reagiria a qualquer
provocação. Explicando ainda que isso seria um princípio da física.
Apesar da conversa nada mudou, e o então delegado foi encontrado
metralhado dentro do seu carro.
Cavalcante foi acusado por
participar diretamente no crime. Nessa ocasião suas duas residências – a
fortaleza de Caxias e o apartamento de Copacabana – foram cercadas por
policiais fortemente armados. Todo o cerco à casa de Tenório só foi
suspenso com a intervenção de Nereu Ramos, presidente da Câmara, Osvaldo
Aranha, ex-ministro da Fazenda, e Afonso Arinos, então deputado e
futuro senador, que foram até lá resolver o imbróglio.
Tenório Cavalcante aos poucos
foi perdendo poder. No episódio com o deputado ACM, teve suas armas
apreendidas e seus direitos políticos cassados pelo governo militar de
1964 com a interveniência direta de Antônio Carlos Magalhães, então
deputado pela ARENA.
Ao se afastar da política, foi
sumindo do cenário e deixando de colocar medo nos adversários. Até ficar
completamente esquecido, até mesmo pelo povo.
Acabou falecendo de pneumonia aos 82 anos, em 5 de maio de 1987
Fonte:
http://andrigomania.blogspot.com.br/2011/01/tenorio-cavalcante-o-homem-da-capa.html