Com o passo arrastado e o olhar cansado, Bernardo Lobo — o último fotógrafo lambe-lambe do Rio — carrega pelo Jardim do Méier sua enorme e pesada máquina fotográfica, que ninguém além dele pode tocar. Há 56 de seus 85 anos faz ponto ali, desafiando o tempo e a tecnologia para manter vivo em nós um gostinho de século 19.
Seu Lobo está acostumado a resistir. Nasceu em Portugal e é veterano de guerra no país. Lutou pelo exército português na época do ditador Antônio Salazar. Ficou 1 ano em Angola, 5 na China e 2 meses na Índia — quando foi prisioneiro por seis meses. Veio para o Rio com 26 anos, a convite de um tio para trabalhar — adivinhem — numa padaria.
“Por sorte, reencontrei amigo que serviu comigo e ele lembrou que eu tirava fotos na guerra. Tinha estúdio de fotografia e morreu dois anos depois, deixando para mim”, conta. Em 1953, seu Lobo saiu do laboratório no Edifício Liberdade, no Centro — que desabou este ano — e foi fotografar nas ruas do Méier. Desde que assumiu o posto, clicou nomes como Tenório Cavalcante, Dercy Gonçalves, Luiz Gonzaga, Ângela Maria e general Mendes Moraes. “No domingo aqui ficava cheio demais. Cobrava R$ 10 para tirar seis fotos das famílias na praça, prontas em 15 minutos. Hoje não tem quase procura. E tive enfarte, precisei dar um tempo”, lamenta.
‘Terror da mulherada’, teve cinco filhos, 10 netos e três bisnetos, mas nunca quis se casar pois sofreu decepção amorosa em Portugal que castigou seu coração. Os últimos golpes da vida foram os assassinatos de dois de seus filhos que o ajudavam no ofício: um fotógrafo e o outro policial, que patrulhava a praça onde ele trabalhava. Os crimes nunca foram esclarecidos.
Os fãs do fotógrafo de jardim, como ele se denomina, sentem sua falta: “Olha ali, o último grande retratista do Rio”, exclama um senhor para o neto ao ver Lobo na praça. “Eu ainda vou voltar”, promete.

CADÊ OS OUTROS LAMBE-LAMBES?
Iphan fez levantamento há dois anos e havia cinco, localizados no Méier, São João de Meriti e Ipanema, mas todos pararam de trabalhar

HAVIA OUTROS NO MÉIER?
Sim! Só no Jardim do Méier, onde seu Lobo fez carreira, havia oito fotógrafos de jardim que disputavam a clientela no fim de semana
 
POR QUE O NOME LAMBE-LAMBE?
Existem algumas explicações: lambia-se a placa de vidro para saber qual era o lado da emulsão ou se lambia a chapa para fixá-la
 
COMO FUNCIONA?
É minicâmara escura, em que se faz todo processo de registro e revelação numa caixa preta onde não entra luz, com lente. Usa-se papel fotográfico e obturador manual
 
QUANDO COMEÇOU?
A partir do século 19, nos espaços públicos das cidades brasileiras. O lambe-lambe teve um papel importante na popularização da fotografia no Brasil 

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Decreto do prefeito Cesar Maia fez dos lambe lambe patrimonio cultural do Rio de Janeiro



                     Episodio de Chaves, quando o Seu Madruga dá uma de lambe lambe
                                                     

Em 2007 a Unidos da Tijuca apresentou o samba enredo "De lambida em lambida a Tijuca dá um click na avenida"