As Caras do Rio: O velho lambe-lambe
Cristine Gerk O Dia On Line - Domingo - 26/08/2012
Com o passo arrastado e o olhar cansado, Bernardo Lobo — o último
fotógrafo lambe-lambe do Rio — carrega pelo Jardim do Méier sua enorme e
pesada máquina fotográfica, que ninguém além dele pode tocar. Há 56 de
seus 85 anos faz ponto ali, desafiando o tempo e a tecnologia para
manter vivo em nós um gostinho de século 19.
Seu Lobo está acostumado a resistir. Nasceu em Portugal e é veterano de
guerra no país. Lutou pelo exército português na época do ditador
Antônio Salazar. Ficou 1 ano em Angola, 5 na China e 2 meses na Índia —
quando foi prisioneiro por seis meses. Veio para o Rio com 26 anos, a
convite de um tio para trabalhar — adivinhem — numa padaria.
“Por sorte, reencontrei amigo que serviu comigo e ele lembrou que eu
tirava fotos na guerra. Tinha estúdio de fotografia e morreu dois anos
depois, deixando para mim”, conta. Em 1953, seu Lobo saiu do laboratório
no Edifício Liberdade, no Centro — que desabou este ano — e foi
fotografar nas ruas do Méier. Desde que assumiu o posto, clicou nomes
como Tenório Cavalcante, Dercy Gonçalves, Luiz Gonzaga, Ângela Maria e
general Mendes Moraes. “No domingo aqui ficava cheio demais. Cobrava R$
10 para tirar seis fotos das famílias na praça, prontas em 15 minutos.
Hoje não tem quase procura. E tive enfarte, precisei dar um tempo”,
lamenta.
‘Terror da mulherada’, teve cinco filhos, 10 netos e três bisnetos, mas
nunca quis se casar pois sofreu decepção amorosa em Portugal que
castigou seu coração. Os últimos golpes da vida foram os assassinatos de
dois de seus filhos que o ajudavam no ofício: um fotógrafo e o outro
policial, que patrulhava a praça onde ele trabalhava. Os crimes nunca
foram esclarecidos.
Os fãs do fotógrafo de jardim, como ele se denomina, sentem sua falta: “Olha ali, o último grande retratista do Rio”, exclama um senhor para o neto ao ver Lobo na praça. “Eu ainda vou voltar”, promete.
Os fãs do fotógrafo de jardim, como ele se denomina, sentem sua falta: “Olha ali, o último grande retratista do Rio”, exclama um senhor para o neto ao ver Lobo na praça. “Eu ainda vou voltar”, promete.
CADÊ OS OUTROS LAMBE-LAMBES?
Iphan fez levantamento há dois anos e havia cinco, localizados no
Méier, São João de Meriti e Ipanema, mas todos pararam de trabalhar
HAVIA OUTROS NO MÉIER?
Sim! Só no Jardim do Méier, onde seu Lobo fez carreira, havia oito
fotógrafos de jardim que disputavam a clientela no fim de semana
POR QUE O NOME LAMBE-LAMBE?
Existem algumas explicações: lambia-se a placa de vidro para saber qual era o lado da emulsão ou se lambia a chapa para fixá-la
COMO FUNCIONA?
É minicâmara escura, em que se faz todo processo de registro e
revelação numa caixa preta onde não entra luz, com lente. Usa-se papel
fotográfico e obturador manual
QUANDO COMEÇOU?
A partir do século 19, nos espaços públicos das cidades brasileiras. O
lambe-lambe teve um papel importante na popularização da fotografia no
Brasil
Anuncio de jornal
Decreto do prefeito Cesar Maia fez dos lambe lambe patrimonio cultural do Rio de Janeiro
Episodio de Chaves, quando o Seu Madruga dá uma de lambe lambe
Em 2007 a Unidos da Tijuca apresentou o samba enredo "De lambida em lambida a Tijuca dá um click na avenida"
Parabéns pela matéria, fiquei encantada com a história de vida do Sr.Lobo, várias explicações sobre a profissão de Lambe Lambe, terminando com o samba enredo da Unidos da Tijuca. Show!
ResponderExcluirMeu bisavô :)
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