Órgão importante da ditadura de Getulio Vargas, o
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) não só controlava a imprensa
e as diversões como também procurava interferir na criatividade dos
artistas, através de "conselhos" e "sugestões". Assim, no início dos
anos 1940, achando que existia muito samba fazendo a apologia da
malandragem, o DIP "aconselhou" os compositores a adotarem temas de
exaltação ao trabalho e condenação à boemia.
Um dos casos mais famosos envolveu dois
grandes compositores da história da MPB: Wilson Batista e Ataulfo Alves,
parceiros, no início dos anos 40, no samba "O Bonde de São Januário",
um sucesso na voz de Ciro Monteiro. Na versão original, a música dizia:
Leva mais um sócio otário
Só eu não vou trabalhar...
Os compositores, para evitar problemas com o poder, fizeram pequenas alterações na letra e o samba ficou assim:
Quem trabalha é que tem razão
eu digo e não
tenho medo de errar
O Bonde de São JanuárioLeva mais um operário
Sou eu que vou trabalhar...
Na segunda parte, o protagonista confessa que
"antigamente não tinha juízo", mas "resolveu garantir o seu futuro" e
agora "vive bem", terminando por afirmar que "a boemia não dá camisa a
ninguém".
O bonde agora carregava dóceis operários para as fábricas. A boemia não dava
mais camisa para ninguem. O regime procurava impor dessa maneira uma nova
imagem do sambista.
O bonde passando por São Cristóvão em 1941
O Bonde de São Januário
Olhando essa foto, parece que o Bonde vai virar. Mais um fato da nossa história recente que eu não conhecia. Legal.
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