segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O Bonde de São Januário


Órgão importante da ditadura de Getulio Vargas, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) não só controlava a imprensa e as diversões como também procurava interferir na criatividade dos artistas, através de "conselhos" e "sugestões". Assim, no início dos anos 1940, achando que existia muito samba fazendo a apologia da malandragem, o DIP "aconselhou" os compositores a adotarem temas de exaltação ao trabalho e condenação à boemia. 
Um dos casos mais famosos envolveu dois grandes compositores da história da MPB: Wilson Batista e Ataulfo Alves, parceiros, no início dos anos 40, no samba "O Bonde de São Januário", um sucesso na voz de Ciro Monteiro. Na versão original, a música dizia:

“O Bonde de São Januário
Leva mais um sócio otário
Só eu não vou trabalhar...

Os compositores, para evitar problemas com o poder, fizeram pequenas alterações na letra e o samba ficou assim:



Quem trabalha é que tem razão 
eu digo e não tenho medo de errar
O Bonde de São Januário
Leva mais um operário
Sou eu que vou trabalhar...



Na segunda parte, o protagonista confessa que "antigamente não tinha juízo", mas "resolveu garantir o seu futuro" e agora "vive bem", terminando por afirmar que "a boemia não dá camisa a ninguém". 
O bonde agora carregava dóceis operários para as fábricas. A boemia não dava mais camisa para ninguem. O regime procurava impor dessa maneira uma nova imagem do sambista.
 



                                        O bonde passando por São Cristóvão em 1941




O Bonde de São Januário

Quem trabalha, é que tem razão,
Eu digo, e não tenho medo de errar,
O bonde de São Januário,
Leva mais um operário,
Sou eu que vou trabalhar.

Antigamente eu não tinha juízo,
Mas hoje eu penso melhor no futuro,
(Graças a Deus)

Sou feliz,
Vivo muito bem,
A boemia,
Não dá camisa,
A ninguém,
Passe bem!


Um comentário:

  1. Olhando essa foto, parece que o Bonde vai virar. Mais um fato da nossa história recente que eu não conhecia. Legal.

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