Madureira chorou, / Madureira, chorou de dor,
Quando a voz do destino, / Obedecendo ao divino,
A sua estrela chamou.
Gente modesta, / Gente boa do subúrbio,
Que só comete distúrbio, / Se alguém os menosprezar,
Aquela gente, / Que mora na Zona Norte,
Até hoje, chora a morte, / Da estrela do lugar.
Quando a voz do destino, / Obedecendo ao divino,
A sua estrela chamou.
Gente modesta, / Gente boa do subúrbio,
Que só comete distúrbio, / Se alguém os menosprezar,
Aquela gente, / Que mora na Zona Norte,
Até hoje, chora a morte, / Da estrela do lugar.
Com certesa voce ja ouviu esse samba, mas voce sabe por que Madureira chorou? E quem era essa estrela?
Essa estrela era Zaquia Jorge, atriz, empresária e
vedete do teatro de revista, nascida no Rio de Janeiro, em 6 de
janeiro de 1924, e falecida na mesma cidade em 22 de abril de 1957.
Estreou no teatro, como girl, na
Companhia de Walter Pinto. Mais tarde, já como vedete, foi para a
Companhia Juan e Mary Daniel, no Teatro Follies, em Copacabana.
Tornou-se, a seguir, empresária do Teatrinho de Bolso, na Praça General
Osório, onde encenou várias peças, em 1951.
Em Madureira, na década de 1950, tornou-se proprietária do único teatro de rebolado do subúrbio carioca, o Teatro de Revista Madureira. Era conhecida como a "Estrela do Subúrbio" e "Vedete de Madureira".
Em Madureira, na década de 1950, tornou-se proprietária do único teatro de rebolado do subúrbio carioca, o Teatro de Revista Madureira. Era conhecida como a "Estrela do Subúrbio" e "Vedete de Madureira".
Materializava-se
um grande sonho dela, a construção de um teatro no subúrbio. Zaquia
percebeu a carência de oferta de espetáculos para o subúrbio e decidiu
que o povo que ali morava também poderia ter acesso ao Teatro de
Revista, assim como acontecia no Centro e na Zona Sul - bem estruturado e
com excelente qualidade.
Em parceria com Julio Leiloeiro
e, com peculiar cuidado e estima a linguagem artística, construiu o
prodigioso Teatro Madureira, situado à rua Carolina Machado, 386, em
frente à estação de trem do bairro. Neste bairro, trouxe a alegria do
espetáculo ao público, o entendimento da arte teatral, estabeleceu a
criação de uma platéia em uma região que não era bem agraciada com
diversões dessa espécie.
O teatro possuía 450 lugares, 12
camarins e muitos camarotes. Com estréia marcada para 23 de abril de
1952, o teatro inaugurou oficialmente em 30 de abril, com a revista Trem de Luxo,
escrita especialmente para sua estréia por Walter Pinto e Freire
Júnior, com 22 quadros, tendo como cômico Evilásio Marçal. Zaquia
participou dos quadros Dona Boa e Brotinhos, Campanha das donas de casa, Velhos amigos, Existencialismo e a apoteose Exaltação à Bahia.
Inicialmente, Zaquia enfrentou
uma platéia totalmente desacostumada a ter um teatro tão próximo e a
usufruir desta iguaria. O público ainda não havia descoberto o teatro,
isto acarretou problemas de bilheteria, mesmo assim tal circunstância
não abalou a moça que, com seu senso de marketing aguçado, empregou
estratégias para atrair as pessoas - facilitou o acesso das pessoas ao
teatro, reduzindo o preço do convite, divulgando constantemente,
deixando pessoas assistirem de graça aos espetáculos.
Zaquia permaneceu investindo
junto a Júlio no teatro, além do constante diálogo com o S.N.T.,
escrevendo cartas e nem sempre obtendo o resultado desejado. Buscava
apoio das entidades, ajuda financeira para melhor realizar o seu
trabalho, pedidos de reavaliação de tarifas pelos direitos autorais das
músicas a serem utilizadas nas montagens da empresa, embora sempre tenha
tido que segurar firmemente as rédeas financeiras de seu sonho.
Avançando a década de 50, o
número de peças existentes em revista, oscilava. Apesar da alastrada
afeição que a televisão e as telenovelas causaram na população, a
revista caminhava, estrelando os palcos cariocas. Ronaldo Grivet, autor
da peça A vedete do subúrbio, feita para homenagear Zaquia,
conta-nos em sua pesquisa, que o teatro passou a ser o mais freqüentado
da cidade, com carros vindos de todos os bairros, e que se prezava pelo
uso do duplo sentido nas peças – elemento original do gênero – não eram
utilizados palavrões ou assuntos como bebida e tóxico, raramente inseria
tipos políticos e destacava a alegria. Teatro de boas intenções, de
verdadeira feitura na Arte – esta era a esfera do Madureira e a
Companhia Zaquia Jorge.
Em 1953, algumas revistas se destacaram, dentre elas, montagens do Teatro Madureira – Ajuda teu Irmão, Chegou o Guloso, com a grande cantora Aracy Cortes – dama da voz e dos palcos - em participação especial, A galinha comeu, O baixinho é menor e Tá na hora.
Além das obras citadas, o palco do Teatro Madureira projetou as seguintes peças: O negócio é rebolar, Confusão na Arena, Macaco, olha o teu rabo, Tira do dedo do pudim, Bota o Café no fogo, Boca de espera, Vê se me esquece, Pintando o sete, Satélite de Mulheres, Garoto Enxuto, Mengo, tu és Meu, Vai levando, Curió, Tudo é lucro, O pequenino é quem manda, Vamos brincar, Vira o disco, Banana não tem caroço, Alegria do Peru, Sacode a jaca, Mistura e manda, Tudo de fora, Você não gosta.
Zaquia foi homenageada com os sambas Zaquia Jorge – vedete do subúrbio - estrela de Madureira, de Avarese, sendo tema da Escola de Samba Império Serrano, em 1975 e Madureira Chorou, de Carvalhinho e Júlio Leiloeiro, e uma peça A vedete do subúrbio, de Ronaldo Grivet e José Maria Rodrigues.
E Madureira chorou...
Zaquia Jorge teve morte trágica,
na praia da Barra da Tijuca, quando tomava banho de mar em companhia de
várias outras artistas. Era comum as vedetes se bronzearem 'al natural'
na Barra, por ser uma praia deserta na época. A edição do jornal O
Globo de 23 de abril de 1957 assim noticiou a morte de Zaquia Jorge:
"Rapidamente, a notícia foi
propagada, e grande número de atores da Companhia da Revista Zaquia
Jorge e de outras empresas chegou ao local. Em poucos instantes as
brancas areias da praia foram pisadas por centenas de pés, já que também
foi grande o número de curiosos que acorreu.
Quando um guarda-vidas retirou,
do perau em que caíra, o corpo da vedete, Celeste Aída, uma das que a
acompanhavam, abraçou-se ao cadáver, chorando copiosamente. Celeste Aída
vira a amiga desaparecer e tudo fizera para salvá-la, não o conseguindo
porque era muito fundo o perau. Enquanto ela se esforçava, os dois
homens que integravam o grupo e que estavam longe aproximaram-se. Na
areia, muito assustadas, cinco girls assistiam à luta de Celeste Aída,
sem poder ajudá-la.
Afinal, cansada e desanimada,
Celeste Aída voltou às areias, Zaquia Jorge desaparecera e, quando foi
encontrada, já estava quase sem vida. Morreu pouco depois..."
"Foi sepultada no Cemitério de
São Francisco Xavier, pranteada por artistas e populares, que a
reverenciaram como a pioneira do teatro suburbano carioca. Das 6h às
16h30m de ontem, mais de 4.000 pessoas afluíram ao Teatro de Madureira,
em cujo palco ficou exposto o corpo da artista. Com a platéia e os
balcões apinhados, o ambiente fazia lembrar um grande dia de récita.
Contudo, a emoção do público era intensa, guardando os presentes muito
respeito.
Sobre uma fileira de dez
cadeiras havia dezenas de coroas entre elas, do Teatro Santana (São
Paulo), do Corpo de Bombeiros, das escolas de samba Sampaio e Império
Serrano, de inúmeras entidades e figuras da arte e de outros setores. O
povo humilde do subúrbio formou filas, subindo ao palco para dar seu
último adeus a Zaquia Jorge..."
Em sua homenagem foi composta a música "Madureira chorou", um samba de sucesso no carnaval de 1958. de Carvalhinho e Julio Monteiro (marido de Zaquia)
Brilhando
Num imenso cenário
Num turbilhão de luz, de luz
Surge a imagem daquela
Que o meu samba traduz
Ah...
Estrela vai brilhando
Mil paetês salpicando
O chão de poesia
A vedete principal
Do subúrbio da central foi a pioneira
E...
Um trem de luxo parte
Para exaltar a sua arte
Que encantou Madureira
Mesmo com o palco apagado
Apoteóse é o infinito
Continua estrela
Brilhando no céu
Num imenso cenário
Num turbilhão de luz, de luz
Surge a imagem daquela
Que o meu samba traduz
Ah...
Estrela vai brilhando
Mil paetês salpicando
O chão de poesia
A vedete principal
Do subúrbio da central foi a pioneira
E...
Um trem de luxo parte
Para exaltar a sua arte
Que encantou Madureira
Mesmo com o palco apagado
Apoteóse é o infinito
Continua estrela
Brilhando no céu
Filmografia
Sob a Luz de Meu Bairro (1946); Fantasma por Acaso (1946); Caídos do Céu (1946), Pinguinho de Gente (1949), A Serra da Aventura (1950), Aguenta Firme, Isidoro (1951), A Baronesa Transviada (1957).
Onde era o Teatro hoje funciona uma filial da Ricardo Eletro
Fontes:
Wikipédia - Zaquia Jorge;
MPB CIFRANTIGA - Músicas e cifras;
Jornal O Globo (23 de abril de 1957).
Conheço a música Madureira chorou, o samba enredo não tenho certeza se conheco, mas não imaginava essa história. Que mulher batalhadora num tempo em que a mulher quase não tinha espaço pra se expressar. Morte trágica, infelizmente. Matéria nota 10!
ResponderExcluirMais um artigo muito interessante. Eu pensava que Madureira chorava a morte de Silas de Oliveira nesta música. O Carvalhinho será aquele comediante que morreu há pouco? Nota 10!
ResponderExcluirSilas de Oliveira, um dos fundadores da Imperio Serrano, morreu em 1972, essa musica é de 1958.
ResponderExcluirEsse Carvalhinho era compositor e morreu em 1970.
O Carvalhinho ator faleceu em 2007 quando trabalhava no Zorra Total.
Salvo engano (pois não sou da região), essa Ricardo foi cinema anteriormente e depois uma igreja evangélica, não?
ResponderExcluirOlha só JC Cardoso, trecho do pesquisador Ronaldo Flores que estudou a vida de Zaquia Jorge:
ResponderExcluir"Após a morte de Zaquia o teatro mudou de nome e passou a se chamar Teatro Zaquia Jorge". Mas o publico nunca mais foi o mesmo.
"Carlos Alberto Jorge Rodriguez (filho de Zaquia) acabou vendendo o teatro para as "Casas Presidente", que funcionou no local até 1980. O teatro foi vendido com tudo que tinha dentro."
Depois eu vi ali funcionar as Lojas Insinuante que acabou se fundindo com a Ricardo Eletro.
Muita gente diz que ali funcionou o Cine Beija Flor, mas esse cinema funcionou do outro lado da linha ferrea. Cheguei a assistir alguns filmes ali. Bem poeira, esse cinema depois mudou o nome para Madureir 3. E hoje não existe mais.
Bem interessante o artigo. Até ler o texto eu não saberia explicar por que "Madureira chorou". Parabéns!
ResponderExcluirEu também, sempre me perguntei o pq da musica "Madureira chorou", e custei a descobrir, só agora com o seu blog, fazendo um trabalho prá faculdade sobre o bairro de Madureira. Amei! linda a história! Parabéns!
ResponderExcluirEmocionante essa história
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